Apresentação

Com uma prevalência mundial estimada entre 3% e 7%, a dislexia, entendida como uma perturbação do desenvolvimento permanente que afeta as habilidades leitora e ortográfica (Snowling, 2014), abrange cerca de 50% dos alunos com necessidades educativas específicas (Peterson & Pennington, 2015), constituindo um grande desafio para professores e técnicos. O aluno disléxico, cujo maior défice se situa no processamento da linguagem escrita (descodificação e compreensão), encontra-se, à partida, em situação de desvantagem face aos pares, nomeadamente no que se refere ao reconhecimento adequado das palavras e à pobreza do discurso, podendo a dislexia afetar também outras áreas académicas, a gestão emocional e o comportamento. A leitura é uma competência complexa que envolve o funcionamento adequado de diferentes funções neurocognitivas, pelo que a sua aprendizagem requer a ativação de distintos substratos neuronais para que os alunos sejam capazes de efetuar a conversão grafofonémica (Moura, Pereira & Simões, 2018). O ato de ler torna-se particularmente difícil, demorado e mesmo frustrante para as crianças disléxicas, provocando uma crescente desmotivação face às aprendizagens académicas e constituindo um risco acrescido de insucesso escolar. A ausência de formação inicial, contínua e até especializada na área da dislexia legitima a existência desta oficina de formação, a qual almeja não apenas a desconstrução de mitos relacionados com a temática, mas também, e acima de tudo, a capacitação dos professores de Educação Especial em termos de estratégias e ferramentas pedagógicas adequadas à reeducação na leitura e na escrita, potenciando assim a melhoria das respostas educativas especializadas.

Destinatários

Professores dos Grupos 910, 920 e 930

Releva

Para os efeitos previstos no n.º 1 do artigo 8.º, do Regime Jurídico da Formação Contínua de Professores, a presente ação releva para efeitos de progressão em carreira de Professores dos Grupos 910, 920 e 930. Mais se certifica que, para os efeitos previstos no artigo 9.º, do Regime Jurídico da Formação Contínua de Professores (dimensão científica e pedagógica), a presente ação releva para efeitos de progressão em carreira de Professores dos Grupos 910, 920 e 930.

Objetivos

- Clarificar o conceito de dislexia e outros associados (disortografia, discalculia e disgrafia); - Promover a atualização de conhecimentos, esclarecer dúvidas e desconstruir mitos em torno da temática da dislexia; - Identificar os sinais de alerta e detetar precocemente as dificuldades; - Capacitar os docentes de Educação Especial para melhorarem a qualidade da ação educativa, indo ao encontro das necessidades educativas específicas dos alunos disléxicos, mediante uma intervenção precoce no que se refere à reeducação na leitura e na escrita; - Desenvolver competências no âmbito da avaliação da leitura e da escrita que permitam aos docentes de Educação Especial distinguir dificuldades de aprendizagem decorrentes de fatores ambientais de dificuldades de aprendizagem resultantes desta perturbação específica (dislexia); - Envolver os professores participantes na definição de procedimentos de ação, na diversificação de estratégias e na criação de materiais de intervenção adequados aos alunos disléxicos; - Aplicar, nos contextos pedagógico-didáticos, os materiais e exercícios produzidos; - Refletir sobre a prática e os resultados obtidos.

Conteúdos

Módulo I - 6 horas 1.1. Apresentação da Oficina de Formação e organização dos trabalhos 1.2. Dislexia: conceito, historial e comorbilidades - Dislexia: da definição ao conceito; - Historial e etiologia (fatores neurobiológicos, sociolinguísticos e ambientais); - As comorbilidades mais frequentes: disortografia, discalculia, disgrafia, Défice de Atenção, Motricidade e Perceção (DAMP) e Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA). Módulo II – 5 horas 2.1. O diagnóstico de dislexia/perturbação específica da aprendizagem - Desenvolvimento da linguagem; - Sinais de alerta na infância (indicadores precoces) e na idade escolar (indicadores tardios); - Marcadores cognitivos de dislexia: consciência fonémica; fluência da leitura de palavras isoladas; fluência da leitura de pseudopalavras; e memória verbal; - Leitura (descodificação grafofonémica e compreensão da leitura); - Expressão escrita (ortografia, sintaxe, acentuação, pontuação e grafomotricidade); - Critérios de diagnóstico (DSM-5). 2.2. Avaliação - Leitura oral; - Compreensão da leitura; - Em equipa multidisciplinar; - Exemplos práticos e aplicação de conhecimentos (trabalho de grupo). Módulo III - 6 horas 3.1. Enquadramento legislativo da Educação Inclusiva 3.2. Intervenção e reeducação na leitura e na escrita - Articulação com a família e restantes atores educativos; - Conhecimento das características individuais dos alunos disléxicos (pontos fortes, estilos de aprendizagem, gostos, interesses, hábitos de trabalho, de leitura…); - Métodos de ensino da leitura e da escrita: método sintético (alfabético, fónico e silábico); método João de Deus; método Jean-Qui-Rit (corporal e gestual); método analítico ou global; método das 28 palavras; método natural; e métodos mistos. - Metodologias a adotar (ascendentes, multissensoriais…); - Estratégias a implementar (bottom up, fónicas…); - Recursos a mobilizar (construção de materiais, open-source software e jogos didáticos); - Reeducação na leitura e na escrita (intervenção direta); - Aconselhamento aos docentes do ensino regular (consultoria), nomeadamente na planificação da ação educativa por referência ao DUA, e aos pais/encarregados de educação. Módulo IV - 5 horas 4.1. Instrumentos estruturantes da ação educativa - Linhas orientadoras para a elaboração de relatórios técnico-pedagógicos; - As adaptações ao processo de avaliação; - As adaptações curriculares não significativas (ACNS); - Aplicação prática dos conteúdos abordados (trabalho de grupo). 4.2. Monitorização do planeamento e da intervenção - Criação de instrumentos que permitam monitorizar a intervenção (com enfoque na necessidade de dar feedback aos alunos e aos encarregados de educação); - Apresentação de exemplos práticos; - Dinâmica de grupo: simulação de situações de aprendizagem. Módulo V - 3 horas 5. Apresentação de trabalhos e avaliação da Oficina de Formação.

Avaliação

A avaliação dos formandos decorre em conformidade com o Regime Jurídico da Formação Contínua, o n.º 2 do Artigo 46.º do ECD, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de janeiro, e a Carta Circular CCPFC – 3 – 2007 – setembro. A avaliação dos formandos incidirá nos seguintes critérios/parâmetros: Participação/contributos: Participação nas sessões (dinâmica da participação e qualidade das intervenções) e partilhas sobre o trabalho autónomo desenvolvido (30%). Trabalho final (em equipa): Conceção, desenvolvimento e avaliação de um episódio de aula (qualidade dos materiais produzidos), tendo como referência as estratégias e os conteúdos abordados na oficina (50%). Produção de uma reflexão final, a título individual (20%). A avaliação final, que terá em conta os referidos parâmetros/critérios de classificação, será traduzida numa classificação expressa na escala de 1 a 10 valores: insuficiente (1 a 4,9 valores), regular (5 a 6,4 valores), bom (6,5 a 7,9 valores), muito bom (8 a 8,9 valores) e excelente (9 a 10 valores).

Bibliografia

Almeida, M. de F. (2020). Sinais de alerta da dislexia: perceção de alunos com dislexia. Gestão e Desenvolvimento, (28), 197-228. https://doi.org/10.34632/gestaoedesenvolvimento.2020.9471American Psychiatric Association. (2014). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais: DSM-5. Lisboa: Climepsi Editores.Moura, O., Pereira, M., & Simões, M. (2018). Dislexia - Teoria, Avaliação e Intervenção. Lisboa: Pactor Editora.Peterson, R. L., & Pennington, B. F. (2015). Developmental dyslexia. Annual Review of Clinical Psychology, 11(1), 283–307.Snowling, M. (2014). Dyslexia: A language learning impairment. Journal of the British Academy, 2, 43–58. Doi: 10.5871/jba/002.043.

Formador

Sandra Maria Domingues Gonçalves Correia

Cronograma